Autor: Jorge Reis
Editora: Editorial Caminho
Classificação: *****
"Croniqueta de província", redigida em Paris, em
1958, a narrativa é protagonizada pelo agente da judiciária António Santiago,
destacado para Vila Velha para averiguar a morte de um rico proprietário,
Manuel dos Santos, que morrera envenenado depois de uma ceia com dez amigos.
Colhendo estratégias narrativas firmadas pelo neorrealismo, e submetendo-as à
estrutura do romance policial, a narrativa é construída através da alternância
e oposição entre o discurso interior do agente, em itálico, e o discurso das
diversas testemunhas. Além da paródia ao intertexto bíblico, visível desde o
título e corroborada com múltiplas outras alusões que invertem o sentido da
mensagem evangélica ("o assassino está no meio de nós"), o romance,
que tem como pano de fundo um contexto da repressão policial sobre o povo de
Vila Velha, formula uma crítica à desumanização capitalista: "Ele não
sabia, nem os seus pares o sabem, que são condenados à espera da morte,
cadáveres em cata de sepultura!... E são-no, na medida em que a grandeza deles
é feita do empobrecimento de outrem... Mas eles não o sabem, ninguém o sabe...
[...] De onde vêm? Para onde vão? Não sabem. Ninguém sabe. Vivem, sem curar
desvendar o sentido dos seus actos. Nada!..."
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