Autor: Miguel Esteves Cardoso
Editora: Assírio & Alvim
Classificação: *****
A
Causa das Coisas é um conjunto de pequenas crónicas publicadas no
inicio/meados da década de 80 no jornal Expresso
por Miguel Esteves Cardoso e que, partindo das mais variadas coisas,
palavras, expressões, tiques ou defeitos, caracterizam bem o povo
português e o estado da nossa sociedade (naquela época, mas também
agora, pelo que a sua actualidade se mantém), numa mistura mordaz de
humor e crítica social.
“Entre as afecções
de boca dos portugueses que nem a pasta medicinal Couto pode curar,
nenhuma há tão generalizada e galopante como a Portugalite. A
Portugalite é uma inflamação nervosa que consiste em estar sempre
a dizer mal de Portugal. É altamente contagiosa (transmite-se pela
saliva) e até hoje não se descobriu cura.
A Portugalite é contraída por cada português logo que entra em contacto com Portugal. É uma doença não tanto venérea como ‘venal’. Para compreendê-la é necessário estudar a relação de cada português com Portugal. Esta relação é semelhante a uma outra que já é clássica na literatura. Suponhamos então que Portugal é fundamentalmente uma meretriz, mas que cada português está apaixonado por ela. Está sempre a dizer mal dela, o que é compreensível porque ela o trata extremamente mal.
Chega até a julgar que a odeia, porque não acha uma única razão para amá-la. Contudo, existem ‘cinco sinais’ — típicos de qualquer grande e arrastada paixão — que demonstram que os portugueses, contra a vontade e contra a lógica, continuam apaixonados por ela, por muito afectadas que sejam as ‘bocas’ que mandam. (…)”
A Portugalite é contraída por cada português logo que entra em contacto com Portugal. É uma doença não tanto venérea como ‘venal’. Para compreendê-la é necessário estudar a relação de cada português com Portugal. Esta relação é semelhante a uma outra que já é clássica na literatura. Suponhamos então que Portugal é fundamentalmente uma meretriz, mas que cada português está apaixonado por ela. Está sempre a dizer mal dela, o que é compreensível porque ela o trata extremamente mal.
Chega até a julgar que a odeia, porque não acha uma única razão para amá-la. Contudo, existem ‘cinco sinais’ — típicos de qualquer grande e arrastada paixão — que demonstram que os portugueses, contra a vontade e contra a lógica, continuam apaixonados por ela, por muito afectadas que sejam as ‘bocas’ que mandam. (…)”
Miguel Esteves Cardoso
Sem comentários:
Enviar um comentário