Editora: Edições ASA
Classificação: ****
"A Hora de Sertório"; é um romance histórico, um retrato bastante fiel da época de crise da República romana, mais concretamente aquando da conquista das províncias hispânicas por parte de Roma (século I a.C.). Evidencia-se o papel importante de Quinto Sertório, general romano, que numa época marcada por uma forte agitação social e fazendo parte da lista dos proscritos de Roma, chega à Península Ibérica, desenvolvendo uma política que visa captar apoios dos povos hispanos, através da adopção de medidas populares. O seu objectivo era organizar um modelo de governo que iria reproduzir na Península o que para ele constituía um modelo - Roma.
O percurso narrativo do livro é-nos dado por três personagens: Euménio de Rodes, filósofo grego; Lúcio Hirtuleio, o amigo mais fiel de Sertório; e Medamo, um jovem Lusitano filho adoptivo de Euménio de Rodes, que irá engrossar as fileiras das suas tropas. O Quinto Sertório que nos é dado a conhecer por João Aguiar é um homem duro, um militar exímio, dotado de uma grande inteligência e calculismo. Por outro lado, temos também um homem sensato, justo e, por vezes, até amável. É uma personagem que não se deixa levar por emoções, paixões ou sentimentos mais banais, quando se trata de alcançar objectivos propostos. Uma primeira e rápida leitura da obra faz-nos pensar em Sertório como um herói e um libertador para os povos hispânicos, mas uma leitura mais atenta faz-nos perceber que, afinal, Sertório luta para instaurar na Península Ibérica um modelo de Estado Romano (da forma como ele o concebe e não como o que existe na realidade do seu tempo), tendo-o a ele como chefe de Estado.
Resumindo, de um lado temos o relato histórico, factual, onde se relatam os acontecimentos de uma forma objectiva (sem com isso se retirar a subjectividade do autor, patente na sua clara preferência pelo nosso herói); por outro lado, temos um romance, cujo autor teve a preocupação de se manter fiel à História, mas com traços literários próprios do género, utilizando a ficção onde os factos históricos não eram suficientes para preencher toda a acção e onde havia lacunas históricas. Um livro notável de um autor que vale a pena ler.
Sem comentários:
Enviar um comentário