quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ensaio sobre a cegueira

Autor: José Saramago
Editora: Editorial Caminho
Classificação *****

Toda a gente cega. Eis a proposição do romance de José Saramago. A cegueira traz consigo a desordem social, como se pela porta aberta pelo medo entrassem os animais soltos que vivem em nós acorrentados pela razão.

Ensaio sobre a Cegueira é um livro duro, de uma violência verbal que vai desorganizando o mundo até o reduzir a lugar de escuridão, onde entra com timidez, aqui e além, um raiozinho de sol. É como se o autor não ousasse escrever a felicidade ou a sua hipótese.

Porquê um livro assim? José Saramago escora o romance numa indignação e num projecto ético. A necessidade de transcendência, que se inscreve numa linha de coerência anterior e pessoalíssima – lutas que ele vai entretendo com o Homem e a sua ideia de Deus, que faz cair nos magros ombros do Homem a responsabilidade final do seu destino – leva-o agora à negação do humano depois de ter negado o divino. (...) Trata-se do juízo final da Razão.

Clara Ferreira
Alves

In Expresso


O Ensaio sobre a Cegueira terá sido, talvez, o livro de saramago que mais gostei. O forte poder da narrativa, a maneira como ele nos transporta para aquele mundo terrível, onde a crueldade do ser humano é a tónica fundamental, é de um realismo arrepiante. Sendo certo que é um dos livros de Saramago mais fácil de ler não é, contudo, o mais fácil de "digerir", pois é praticamente impensável que o ser humano possa ser tão estúpido e cruel. Não é fácil transmitir o que se sente ao lê-lo. Só mesmo a sua leitura poderá revelar o universo de sensações que Saramago nos criou. Vale bem a pena.

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