Autor: José Jorge Letria
Editora: Pergaminho
Classificação: ***
Estado
febril. Conto
a conto, José Jorge Letria faz desfilar absurdos e contratempos, o
sobrenatural e o fantástico, a lembrar um parente diminuído, e mais
ao seu tempo, das excelentes criações de Poe. Mas não é por isso
que este "A Mão Esquerda de Cervantes" deixa de interessar
à leitura. Aliás, atira-nos a cada estória para uma espécie de
estado febril, no limite entre o sono e os curtos períodos de
vigília em que todos pensamentos e pesadelos se assumem como
evidentes e, por isso, assustadores.
São
estórias de personagens mirabolantes como a de um rapaz, que à
força de tanta televisão ter visto a sua mãe, vê a sua cabeça
transformada num desses electrodomésticos apetrechada com vídeo
gravador e antena parabólica, ou a de uma casa personificada que
tudo devora, levando à loucura o seu hóspede incómodo e
indesejável, ou ainda a de um homem, que não curando do ciúme e
atenção requerida, morre por descuido à mão fustigadora da sua
própria sombra. 14 contos muito próprios a pequenas pausas.
Em
1998, a Associação Portuguesa de Escritores atribui a honra do Grande
Prémio do Conto de Camilo Castelo Branco a José Jorge Letria por
esta obra.